"Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também, viver um grande amor." Amadeus Mozart.

domingo, 23 de maio de 2010

"O tempo cura"

E assim, como quem cometeu um delito muito grave, tudo foi sendo calado. Primeiro calou os meus olhos, abraços, sorrisos. E a cada dia, mais silêncio me era imposto. Até que me privou das palavras faladas, justificando que “o tempo cura”. Por fim, me tirou a liberdade das frases escritas. Cá estou muda, inclusive na queixa. Mas vai... O vazio se vai e se esvai, e quando menos se espera: “o tempo cura”. O meu delito podia ser tanta coisa, “tinha de ser justo amor, meu Deus?”.

Para alguém distante, com amor.

O silêncio da minha paz. Vídeo.




Mais tarde é tudo igual
Me visto na falta de você
Tem dias que sorrindo
Escondo o quanto ouvi
O silêncio do meu quarto
Percebo quanto tempo me prendi
Ando pela casa, de madrugada
Sei que não me permiti
Mas nós somos iguais
Não olha pra trás
Que eu sinto o tamanho da falta
Que você me faz
Não posso mais pensar em ouvir
A sua voz
Quebra o silêncio da minha paz
O silêncio da minha paz
Aperta o meu peito
Não imaginei um jeito
De te ter pra sempre aqui
Coração na mão
Sem ter você por perto
Não sei o que é certo não consigo ouvir
O silêncio da minha paz...

sábado, 22 de maio de 2010

Do vinho à água

Perdoe-me, meu bem! Hoje não foi o meu melhor dia, se é que você me entende... Eu não estava mais na frente da tela - não estava na sala, não estava na cama grande de casal, que um dia jurei dividir, não estava nem no quarto - na hora que você me chamou. Estava com os celulares mudos, estava com as vontades mudas, os sonhos, os planos, os abraços, beijos – mudos. Eu não estava em mim. Desculpe, mesmo, mas hoje, precisava ficar um pouco só, para pôr as coisas aqui por dentro, no lugar. Tenho minhas dúvidas, se na vida, ainda consigo achar uma região equidistante, entre a apatia e a efusividade, para contemplar a paz que tentei te oferecer, enquanto tudo foram flores. Receio que seus nãos me fizeram assim. Pelo menos, espero em algum momento, aprender a lidar com a falta do meio-termo, principalmente, por que quando transbordo, sou você sem mim. Por mais que eu tente controlar, a taça sempre está absolutamente cheia, e me escorrendo pelas bordas. Sabe o que é mais curioso? É que sem querer eu criei uma lente, que me distorce completamente, quando você me enxerga. Mas só você. Eu agora entendo que sou três: uma minha, uma sua e uma do mundo, e o meu maior desejo era romper com todas as distorções que o seu olhar me causa. Ou será que sou eu que me infantilizo na sua presença, e me apresento como uma criança mimada que não sabe esperar a hora do presente, do sono, da sobremesa? Mas é culpa sua, e eu já te disse, lembra? Outro alguém assim não há de haver, por isso, “só” serei essas três. Não terá quarta, ou quinta. Pelos meus olhos; "etílica", paciente, serena e doce; pelos olhos do mundo, e pelos seus; insana declarada, com litros de palavras, felicidade, atenção e amor, retidos nas entranhas, circulando nas veias. Tudo bem trancado e proibido de você. O que sinto me apressa e me torna insensata com as esperas, não consegui ter sequer a "calma" das filas de banco, para tentar alcançar o seu tempo. A saudade enche a taça, que esborra, de novo. Mas, o tempo faz evaporar e precipitar. O que foi vinho, um dia volta às suas origens, e torna-se água: insípida, incolor e inodora, diferente do líquido que hoje rega a minha taça. Eu acabo esquecendo, que você não se arrisca ao líquido alcoólico, proveniente das videiras... Eu acabo esquecendo que a sua pressa é a minha calma, e a minha calma é a sua pressa. Os nossos ponteiros giram em sentidos contrários, num descompasso sem fim. A sua ida é a minha volta, "meu tempo é quando"?

Para alguém bem distante, com amor.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Sinestesia

Dezenas de frases escritas, centenas de palavras. O tempo corrói, quando a distância é desmedida. Músicas narrando hora arrastada, minuto longe, segundo perto. Há momentos em que as palavras exteriorizadas são tão vagas, quanto achar que o “para sempre”, é sempre eterno. Querer o eterno do efêmero é o mesmo que desejar, do evolutivo e progressivo; o estático. Eterna é a saudade que às vezes dói, noutras é sinestesicamente; doce. Anestesicamente. E o que é mais doce do que escutar uma música, e perceber que naquele instante, se reviveu cenas dignas de um novo giro? Quando os aromas ativam as lembranças, e a saudade intensifica os sentidos, descobre-se que compartilhar o viver é importante, independente do que diz quem compartilhou com você. Independente de esse alguém dizer alguma coisa. Compartilhar é importante. É importante para quem deu o seu melhor, sem cobrar nada muito além de um “dividir sincero”, isento de obscuridades e fugacidades. É importante para quem se deu - o diálogo com a sua própria consciência livre. Não importa quanto dure o “para sempre”, que ininterruptamente tem seu fim, por mais contraditório que possa parecer. É como o carnaval, a diferença é que não sabemos a hora exata da quarta-feira de cinzas. Quem será que inventou o sentido do sempre, se ele é tão intangível, de fato? A vida, dia após dia, mostra que não importa que ao final, a sua passagem torne-se desimportante, ela sempre será memorável para alguns, apesar daqueles que “simplesmente não se importam” tanto. Talvez em algum momento, se chegue à consciente conclusão, de que essa importância é muito mais relevante a quem se deu do que a quem foi o alvo. “Quem não tem para quem se dar, o dia é igual a noite”. Talvez, ainda se consiga perceber, que viver pela expectativa de reconhecimento, seja de quem for, e qualquer que seja a situação, é o mesmo que relevar a importância dos próprios sentidos de viver. Seria como anular o valor, de tudo que quente, ainda pulsa.

Para alguém diferente de mim, e apesar de tudo... Com carinho.