Eu respiro fundo, três vezes. Dez. Cem. Mil vezes. Ai, eu respiro fundo demais. E respiro, e respiro... Tento fazer uma conexão de tudo tão desconexo, que me ronda aqui, nas entranhas pulsantes. A estrada da vida é tão bifurcada. São tantos sentidos em mim. Os meus ouvidos me contam um segredo contado, que me acelera o rio vermelho de sangue. A minha boca cala uns gritos rasgantes. O cheiro que eu sinto me traz segurança, enquanto os olhos fechados me traem - às vezes muito me traem. Quanto do mundo, os meus olhos não querem ver? Quanto os meus ouvidos ensurdecem, para algumas verdades ruins? Eu sei o que quero. Sei exatamente o que quero, mas o mundo em volta é tão livre de mim. A fluência dos dias, das coisas, das pessoas, dos sentimentos – delas -, da verdade enraizada em cada palavra que o peito arranca de dentro. Todo o resto do que eu não digo, independe de mim. Eu não quero simplesmente ser levada pela vida, eu quero viver segura dos meus passos, mas será que tanto “querer” assim, é plausível de se fazer concreto? Eu só quero o que é meu; aquilo que me aguarda por merecimento. Aquilo que me guarda segura, como quando a minha mãe cantava Caetano, para mim. "Gosto muito de te ver leãozinho, caminhando sob o sol, gosto muito de você leãozinho". Eu só quero ser livre e confiar. Ser livre e deixar livre, respeitar e ser respeitada, amar e ser amada, ser e fazer feliz. Eis aqui, nas entrelinhas, a minha decisão, inconstante e mutável como os dias de arco-íris, de gotas e luzes. Eu não quero apenas ser mais uma. Eu quero ser. Assim como eu sou para mim, assim como quem gosto é para mim. Única. Unicamente lembrada, beijada, amada, vista. Eu só quero o espelho do que eu ofereço, nenhum segundo além. Já dizia Neruda, que o amor é como um espelho, e respirando este sentimento, como eu respiro, peço licença para refletir, e ser reflexo. Peço um reflexo iluminado, pela passagem, longa ou curta, do meu, no teu caminho.
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